quinta-feira, 14 de junho de 2018
Carpe Diem
No outono grávido de um inverno bastardo
Calam-se os pássaros nas cumeeiras
E nos céus recolhem-se as estrelas
No silêncio denso da madrugada
Os galos esquecem as auroras
Não há tempo para lágrimas
Por trás das janelas cerradas
Corações apaixonados naufragam
Longe dos olhos amados
Um cão atravessa a noite fria
A lua despedaçada pendurada na boca
Sangra dores novas e antigas
No coreto da praça central
Os andarilhos assistem extasiados
A morte sacrificial dos sonhos virgens
Em honra da realidade premente
Para quê serve a utopia, mãezinha?
Para que a vida não se perca, criança,
Antes mesmo de germinar a semente
A esperança que alimenta
As almas de tudo o que é gente.
O relógio da matriz badala
Impondo o despertar inevitável
De mais uma segunda-feira ranzinza
Uma buzina na esquina
Uma porta range
Uma sirene
A fome e a faina
Um cheiro de café
Dispersa última neblina.
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